LEMBRANÇAS
DA REVOLUÇÃO DE 64
Estávamos
nós do 5º BI em plena vigência das
hostilidades terroristas de 64. Numa ocasião fui chamado pelo Ten Cel Milton
Molinari, Sub Comandante do Batalhão, que me deu a seguinte missão:
Teria
que conduzir um preso terrorista, da cela do Batalhão diretamente para o
DOI-CODI em São Paulo, a famosa prisão da Rua Tutóia da Operação Bandeirantes,
que, recolhia todos os criminosos e terroristas da época.
Então,
me preparei para a espinhosa missão. Recebi um Jeep, com o melhor motorista do
Batalhão; Um Cabo como meu protetor armado; Uma algema de aço e um prontuário
com toda a documentação do preso a ser apresentados ao Oficial de Dia do
DOI-CODI (Destacamentos de Operações Internas – Centro de Operações e Defesa
Interna), na Rua Tutóia em São Paulo, capital.
Na
hora da saída, o meu Jeep com motorista e o Cabo meu companheiro, estacionamos
no Corpo da Guarda do 5º BI, e, lá recebemos da mão do Sub Comandante, o
Soldado (não apresento seu nome por questão de foro íntimo de segurança), que
foi retirado da sua cela na prisão do Batalhão, que imediatamente o algemei no
banco traseiro do nosso Jeep.
Logo
após rápidas palavras d orientação do Coronel Molinari, dizendo-me que, eu não
parasse para nada até chegar em São Paulo no DOI-CODI e que tomasse muito
cuidado e atenção no percurso!
Partimos
então para o cumprimento da missão! O jeep possuia um dispositivo de SIRENE para
desobstruir obstáculos de trânsito ao logo do nosso trajeto, o que o fiz
algumas vezes!
Lá
por umas tantas da viagem, acho que estávamos nos aproximando de Guarulhos, o
PRESO, disse-me que era preciso para ele urinar! Disse-lhe que urinasse ali no
Jeep mesmo. Mas, ele continuou recalcitrante, ao que entendi que, ele estava
querendo nos dar algum golpe, pois era um elemento revolucionário que tinha
algum conhecimento de guerrilha...
Eu
não arredei o pé e disse ao motorista:
-
“Motorista, senta o pau na velocidade, que se esta merda tombar esse preso vai
morrer ai preso nesse cano”... Era como que um V lateral ao banco traseiro do
Jeep, onde eu o tinha algemado.
Dito
isso o meliante sossegou um pouco seus pitos...
Mas,
mais à frente, ele voltou a falar-me:
-
“Pois é, Sargento, veja o senhor, eu aqui como se fosse um criminoso, e minha
família que mora ai em Guarulhos nem está sabendo disso... O senhor poderia dar
uma chegada na minha casa para eu me despedir de minha mãe?”
-
Minha resposta foi taxativa.
-
“Estou cumprindo ordens e vou cumpri-las até o fim. Você permanece ai algemado”!
Quando
terminou a Rodovia Dutra, começa o sufoco do trânsito paulistano. Ai entra em
jogo a nossa POSSANTE SIRENE. Liguei-a,
e só via os carros à nossa frente abrindo e nos dando passagem! Até na contra
mão nós entramos (Av São João até a Rua Tutóia na OBAN – Operação Bandeirante,
com o auxílio da sirene)!
Ao
entrarmos nas dependências sinistras do
DOI-CODI, me apresentei ao Oficial de Dia e o entreguei a pasta de documento e
o preso. Missão cumprida!
Pra
concluir estas lembranças, esclareço que o preso era um Soldado de Guarulhos
incorporado no 5º BI no ano de 1968. Ele fora campanado por um Cabo de sua Companhia
(CCSv ), que viu dentro do seu armário livros de Karl Marx, desenhos sobre ato
de terrorismo que seria desfechado numa fábrica de papel em Guarulhos, desenhos
de como abater sentinelas militares, outros livros de manuseio de armas, etc...
Como
estávamos em alerta por conta da época do terrorismo que grassava por todo o
Brasil, e, Lorena era um ponto perigoso por estar entre São Paulo e Rio e a
Dutra como corredor natural de deslocamentos do pessoal comunista que estava se
organizando nos aparelhos espalhados pelo país, tínhamos uma sessão de informações,
e, contra informações, na qual eu fazia
parte, que chegou facilmente até o elemento suspeito, que acabo de citar, e que
fora surpreendido, preso e conduzido ao DOI-CODI de São Paulo!
Além
desse episódio, outros ocorreram, como por exemplo, a “busca e apreensão” de
elementos suspeitos na cidade de Lorena, cujas atividades eram subversivas e
ligadas ao movimento revolucionário que infestava todo o Brasil. Era comum, à
noite se ver as luzes das salas da 2ª Sessão (Informações) no alto dos passadiços
do Batalhão, onde aconteciam os “interrogatórios” desses civis suspeitos, que,
após uma a duas horas, eram liberados.
Numa
outra ocasião à noite, uma Kombi passou em alta velocidade, na frente do Corpo
da Guarda, tendo sido abatida pelo Sargento da Guarda que deitou-se ao chão, e atirou por
detrás do veículo. O projetil atravessou de trás para frente e por dentro da Kombi
passando zumbindo à cabeça do motorista, que parou imediatamente, e apavorado
desceu do veículo com as mãos na cabeça gritando para não atirarem!
Nesse
tempo de guerrilha e terrorismos, o nosso serviço de escala de guarda do
quartel e das Companhias, ficávamos super armados: ( FUZIL AUTOMÁTICO LEVE – FAL municiado com vinte projetis 7,62mm e uma
PISTOLA 9mm no coldre; Um transmissor/receptor FM, lanterna), para as
coberturas das rondas e sentinelas em seus postos.
Foi
um período muito tenso, principalmente à noite, quando tínhamos que rondar externamente
as áreas do quartel. Andávamos sempre prontos para esperar qualquer surpresa de
um terrorista passando por Lorena, vindo ou indo para São Paulo/Rio. E, os
roubos e assaltos às sentinelas eram práticas comuns que se tinham notícias em
São Paulo e Rio de Janeiro. Dessa forma eles conseguiam armas de grosso calibre
(FAL) e assassinavam sentinelas como foi o do quartel do QG do II Exército no
Ibirapuera em São Paulo, de cujo planejamento participou a Ex-Presidente DILMA
ROUSSEF!
Jose
Alfredo Evangelista – Subtenente Inativo do 5º BIL
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