PRISCAS
ERAS DE 1965
Minha memória transporta-me às
priscas eras de 1965. Minha juventude estava plenificada de romantismo e
expectativas do meu futuro! Época da minha Sorocaba impoluta... Meus amigos de quarteirão...
Dos folguedos enturmados... Das tarde domingueiras no Estádio Humberto Reali
quando o São Bento jogava .
Nos meus dezessetes para dezoito
anos contava com o aconchego de meus pais e mano na saudosa Rua Newton Prado ao
lado da Nogueira Padilha. Das feiras de domingo onde trabalhei numa barraca
vendendo louças e armarinhos em geral... Dos matinés no Cine Lider e Caracante
quando acompanhava os seriados e os ban- bangs dos mocinhos e bandidos... Do
Zorro, BatMan, Superman... Das peladas nas calçadas de minha rua ralando o
dedão do pé descalço... Das ferroadas de coins coins debaixo do pontilhão do trem
de Votorantim sobre o Rio Sorocaba...
Saudades das pizzas com minha
batota no centro onde tomei a minha primeira cerveja e fiquei tonto! Do flerte
com a guria minha vizinha na Newton Prado quando o coração bateu acelerado! Dos amigos Bruninho, Flávio, Clóvis, Divon,
Pinduca, Edson, Vardo e Neco entre outros próximo à minha casa!
Lembranças e prazerosas do “Estadão”
do professor Benedito que nos acolhia em aulas particulares de “Português” na
sua casa! Da educação física no campo do Scarpa com o professor Amaral...
Até que veio a idade do “serviço
militar”. Cheguei aos dezoito anos e me alistei na Junta de Serviço Militar na
Rua Álvaro Soares e fui computado para me apresentar no dia 15 de Janeiro de
1965 no “temido” Quartel de Itu, o então 2º Regimento de Obuses 105 mm.
Eu saia da puberdade e
ingressava para os anos de minha juventude. Virei Soldado do Exército Brasileiro.
Enverguei a farda cheia de botões pretos, com cinto de couro, calça de tergal e
bibico à cabeça! Esse era o uniforme de passeio.
A turma de Sorocaba se reunia na
Praça do Rosário aos domingos à noite, para tomar o ônibus que nos levava para
Itu. Lá passávamos a semana na instrução e preparo de um soldado de artilharia
do Exército.
A dispensa acontecia nas sextas
feiras à tarde quando a maioria retornava à Sorocaba de “carona”. Soldado só
anda duro e de bolso furado! Era uma grande satisfação poder rever nossos pais
e irmão nesse retorno e contar-lhes todas as atividades que lá tínhamos!
Além de nos mostrar “fardados”
aos nossos familiares e amigo do bairro. Era uma experiência fantástica e muito
prazerosa! Mas a vida continuava. E o tempo avançava nas lides da caserna de
Itu! Íamos ficando mais experientes e “praça velha” como se dizia no jargão
militar!
Até que um dia fui matriculado no
Curso de Cabos. Ao final fui promovido e estava já preparado para o meu licenciamento
de volta ao meu lar e afazeres da vida civil! Mas, quis o destino que o meu
Capitão, me chamasse e me convidou a engajar. E então, minha vida deu uma
guinada. Iniciei a minha carreira permanecendo no quartel.
Após um ano, fiz a seleção de
exames e admissão à “Escola de Sargentos das Armas – ESA”. Aprovado e selecionado
fui para a Escola e após um ano, fui declarado 3º Sargento e fui classificado
para servir no 1º/5º Regimento d Infantaria de Lorena onde me apresentei e iniciei nova fase como profissional das
Forças Armadas.
Mudei-me de Sorocaba. Deixei
meus pais e irmão e segui minha vida. Casei-me em Lorena e tive três filhos.
Hoje, reformado na graduação de Subtenente, vivo em paz e tranquilo com a sensação
de “missão cumprida” após trinta anos de serviços prestados ao Exército.
Mas, me reporto sempre que possível
dessas priscas eras que se iniciaram no ano de 1965 com meus dezoito anos e com
elas me vêm muitas satisfações de perceber que tudo dava certo e minha vida era
sempre abençoada e tudo caminhava dentro da normalidade, sob a proteção de Deus
e da minha família!
Meus pais me proporcionaram uma
educação sólida e responsável com base na religiosidade, patriotismo e responsabilidade.
A sociedade desse tempo, era muito centrada no trabalho e na cooperação social.
Havia atividades para todos, e, eu não fui diferente. Matriculei-me na escola
de datilografia em Sorocaba (antes do serviço militar) e fui trabalhar com dezesseis
anos na Companhia Brasileira de Alumínio – CBA em Mairinque.
Com meu salário de menor ajudava
em casa nas despesas porque papai ganhava pouco, seu salário era baixo e
pagávamos aluguel de casa e as despesas eram volumosas...
Mas, como o serviço militar me chamou
e me convocou, eu sai do emprego. Isso deixou meu pai muito preocupado, mas,
logo o problema foi contornado, porque eu lhe entregava o soldo que eu recebia
como Soldado e depois passei a ganhar como Cabo e mais tarde como Sargento,
então essas promoções me possibilitavam manter a ajuda financeira aos meus
pais!
Hoje, toda aquela galera de
companheiros e veteranos de Itu, com os seus setenta e cinco anos, encontramos-nos
e celebramos nossas amizades nos encontros de “Volta à Caserna” que acontece anualmente
no quartel de Itu. O evento é palmilhado de muitas alegrias e emoções sob a
recepção dos atuais Comandantes do 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve – 2º
GAC, com uma formatura e visitas às instalações e um churrasco.
Priscas eras, que nos remetem às
lembranças de nossas memórias de uma juventude sadia e romântica de uma época
onde havia ordem e progresso... Trabalho e honestidade para todos... Valores
morais e devoção às nossas famílias... Respeito e apreço à pátria... Cultura e
saber porque havia competentes escolas e professores...
Orgulho-me de ser desse tempo profícuo,
ordeiro, de cuja sociedade nos foi legado tantos valores que nos acompanham até
hoje e formatam o nosso caráter, honra e cidadania!
Jose Alfredo Evangelista – De priscas
eras
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